Adrenalina movida a diesel

Um aventureiro é assim mesmo: nasce com esse espírito inquieto. Mas há vários tipos. Existem os chamados “aventureiros de butique”, que apenas aparentam ser ousados, e os que realmente exploram o mundo que os cerca. Fundador da Gaia Expedições, Marcelo Fuzinatto é o melhor exemplo disso. Aventureiro nato, trocou a carreira de engenheiro mecânico pós-graduado em marketing – e acessórios como ternos, gravatas e rotinas de escritório – pela vida regada a barro, suor e óleo diesel. Desde 2001, ele organiza expedições off-road pelo Brasil e por toda, a América do Sul. Fuzinatto concedeu a seguinte entrevista para o Clube do Diesel.

Como e quando você descobriu esse seu espírito aventureiro e partiu para o ramo das expedições?
Sempre gostei de viajar de carro. Depois, no final dos anos 90, quando descobri a facilidade de manutenção dos veículos movidos a diesel, comecei a fazer viagens com estes carros, cada vez indo mais longe. Em 2001, fiz uma expedição pela América do Sul percorrendo Chile, Argentina, Bolívia e Peru e, quando retornei, vi que era isso que realmente gostava de fazer. E resolvi fazer dessa descoberta a minha profissão.

Como você se apresentaria em termos de formação e atividades atuais?
Sou engenheiro mecânico formado pela FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) e trabalhei na área de marketing e produtos durante dez anos. Fiz pós-graduação em Marketing na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e sempre trabalhei no desenvolvimento de produtos, treinamentos e lançamento de novos produtos no mercado. Depois da expedição que fiz pela América do Sul em 2001, decidi abandonar tudo: carreira, ternos e escritório e montei a Gaia Expedições exclusivamente para desenvolver viagens off-road pelo Brasil e pela América do Sul. Hoje trabalho com eventos off-road, treinamentos empresariais voltados para técnicas de condução desse tipo de veículo e expedições para os mais variados lugares.

Por que veículos movidos a diesel são os preferidos para as expedições, já que existem 4×4 movidos a gasolina? Quais são as vantagens e o diferencial que eles oferecem?
A primeira coisa é a resistência mecânica dos a diesel, a facilidade de se conseguir combustível em qualquer lugar em que você esteja passando – por zonas rurais, por exemplo, onde se usam máquinas agrícolas e tratores, tudo movido a diesel. Outra vantagem é a facilidade de manutenção e a resistência à água. Os motores a gasolina, embora possuam bom desempenho, gastam mais e acabam gerando um custo geral nas expedições bem maior.

Como você controla a emissão de poluentes nestes veículos?
Procuro sempre manter a bomba injetora dos carros bem regulada, trocando o filtro de combustível a cada 5 mil quilômetros e mantendo tudo sempre em ordem. Faço revisões constantes.

Quais as principais dificuldades que surgem durante uma expedição? Que tipo de problema é o mais recorrente?
Hoje eu concluí que os maiores problemas não são mecânicos, mas sim humanos. As pessoas ficam muito inseguras longe da sua zona de conforto e acabam passando por situações de estresse por conta disso. Pode parecer engraçado dizer isso, mas é a parte mais difícil de administrar numa expedição. As dificuldades em estradas, pontes precárias, atoleiros como os da Amazônia e problemas burocráticos (como no Peru e na Bolívia) são a parte fácil dos problemas, porque são coisas que estão ao nosso alcance e podemos resolver de alguma forma. Tendo em mãos um carro em ordem e abastecido de suprimentos, barraca de boa qualidade, material de cozinha, etc, conseguimos lidar bem com a questão do isolamento nas expedições.

Com a crescente pesquisa e utilização de combustíveis alternativos, você já se prepara para o uso futuro do biodiesel?
Sim, e acho que este é o caminho. Fico muito contente quando já consigo abastecer em postos que já possuam a porcentagem atual de biodiesel. Ainda não senti nenhuma alteração significativa de desempenho, mas estou sempre ligado e acompanhando a evolução da tecnologia diesel como um todo.