-
Comendo poeira, pesquisando e evoluindo
Publicado em 4 de Junho de 2007 5 comentáriosSupervisor do Departamento de Engenharia de Desenvolvimento de Produtos da MWM INTERNATIONAL Motores, Jorge Dantas, de 28 anos, revela: os ralis são uma fonte interessante de soluções de engenharia para novos projetos – inclusive de motores diesel. Na entrevista que você lê clicando aqui, Dantas fala do domínio da tecnologia diesel nos ralis. A MWM INTERNATIONAL foi pioneira no desenvolvimento dos diesel no off-road brasileiro.
Clube do Diesel – Por que a tecnologia diesel domina o cenário dos ralis no Brasil atualmente?
Jorge Dantas – Basicamente, por fatores técnicos – pelas vantagens que as unidades movidas a diesel têm neste tipo de competição. Por exemplo, durabilidade, resistência, confiabilidade em situações extremas e (talvez principalmente) pelo alto nível de torque dos motores diesel. Eles geram 30% a mais de torque em baixas rotações – o que é fundamental em especiais com circuitos travados. Hoje, nos ralis modernos, os circuitos travados são justamente a maioria, pela característica do piso e da topografia do Brasil e também por questão de segurança. Os organizadores estão tentando evitar trechos de altíssima velocidade pois a maior parte dos ralis é disputado em fazendas, onde o controle e a segurança tem que ser muito eficiente. As especiais em circuitos “mais travados”, também exigem mais do piloto, o que aumenta a competitividade da prova.
Clube – Quais caminhos esse domínio do diesel nos ralis pode indicar para o futuro dos carros comuns?
Dantas – Os motores de competição utilizam um viés de desenvolvimento um pouco diferente do empregado para motores de carros comuns. Nas competições, como o piloto anda o tempo todo buscando extrair o máximo de potência, torque e resistência, nós investimos mais em peças que suportem essa exigência toda, que agüentem estar no limite em tempo integral. Assim, esse tipo de trabalho permanece como uma referência a ser consultada sempre que você precisa de uma solução mais radical no desenvolvimento de um novo projeto. Ou seja, se você precisa “robustecer” alguma peça de um novo motor, sempre haverá informações válidas e interessantes nas pesquisas e testes feitas para produzir motores de competição.
Clube – Sabemos que a MWM INTERNATIONAL foi pioneira na introdução de motores diesel nos ralis? Como foi isso?
Dantas – A General Motors e a Volkswagen nos procuraram para saber se havia interesse da MWM INTERNATIONAL em patrocinar ou ajudar no desenvolvimento de motores de competição para os ralis. Nossa parceria deu muito certo por que ganhamos as principais provas do calendário nacional dos ralis, tanto nas categorias de caminhões quanto nas de veículos de passageiro. E até tivemos carros no Rali Paris-Dakar com motores regulados aqui dentro da MWM INTERNATIONAL. Claro, não podemos esquecer a conquista do Mundial de Cross-Country, com um Troller equipado com nosso motor. Melhor do que isso, não poderia ter sido.
Clube – Vocês tinham programas de testes de novidades em parceria com as equipes?
Dantas – Sim, nós tínhamos. No começo, geramos cerca de cinco regulagens diferentes de motor. Nós levávamos os motores para os locais dos treinos e eu mesmo andei nos carros com os pilotos da época para coletar informações. A idéia era ajustar o motor ao estilo e à necessidade de cada piloto. Eles queriam condições de rotação e torque distintas, precisavam de momentos de entrada em ação do turbo em estágios diferenciados, etc. Assim, cada motor MWM INTERNATIONAL tinha uma regulagem, digamos, personalizada, a fim de ter a melhor adaptação possível ao estilo de pilotagem de cada um. E as diferenças entre os pilotos podem ser sutis para quem não é do ramo, mas na hora de uma corrida elas contam muito – alguns são mais agressivos na retomada de velocidade, outros dosam o acelerador de forma diferente, e outros são capazes de fazer tempos de retomada (do momento em que pisa no acelerador saindo da curva até atingir o pico da rotação) mais rapidamente que os colegas de corrida. Se o aplicador de motores conseguir fazer essa adaptação, estará ajudando o piloto a ser muito mais rápido no tempo total de corrida.
Clube – Os motores MWM INTERNATIONAL atuais que equipam picapes foram beneficiados tecnologicamente por essa participação nas corridas?
Dantas – Sim, claro. As corridas sempre são um laboratório interessante, pois homens e máquinas estão sempre no limite de sua capacidade. Atualmente, coisas como melhor torque em baixas rotações e maior resistência devem parte das idéias que os tornaram possíveis aos ralis em geral.
Clube – As corridas ainda têm o que contribuir para as fábricas em termos de desenvolvimento?
Dantas – Isso acontece em diversas áreas do carro, não apenas nos motores. A Chevrolet S10, por exemplo, quando saiu com motor diesel eletrônico, foi para as lojas com um amortecedor baseado no que era usado nos campeonatos de rali. No caso dos motores, como nos demais dispositivos de um veículo, sempre vale a regra de que pesquisar e ter muita informação ajuda a chegar no produto mais confiável e de melhor qualidade. Só um exemplo: nós usamos nos motores marítimos parte da tecnologia empregada nos pistões do motor que desenvolvemos para os ralis. São aplicações completamente distintas, mas têm necessidades em comum, pois ambas oferecem condições severas de funcionamento.
Clube – As equipes profissionais de rali contam com técnicos de outras fábricas?
Dantas – Nos times realmente profissionais, os mais organizados e que conseguem atrair as fábricas pela qualidade de seu trabalho, geralmente há pelo menos um técnico de cada sistema do veículo – motor, transmissão, eixo traseiro, pneu, etc. Eles estão lá para oferecer assistência em caso de necessidade, para colocar à disposição da equipe o know-how conquistado por seus departamentos de pesquisa em vários anos de trabalho. Mas também estão atentos a novos fenômenos ou necessidades que possam surgir. A partir dessas situações, buscam, junto com a equipe, soluções que acabam sendo compartilhadas pelos engenheiros da fábrica. Se bem aproveitadas, as corridas não são apenas emocionantes – são também um excelente laboratório.
5 respostas a “Comendo poeira, pesquisando e evoluindo”
-
Ae , muito legal o blog !
Beijoooos
-
camilo 13 de Junho de 2007 ás 21:47
Boa noite.
Parabéns pelas reportagens.
Dantas, você é engenheiro da FEI?
Olhe no meu orkut a comunidade da Silverado e veja a Silverado com 525 cv no 6 cill MWM INTERNATIONAL Motores, muito animal, e outra caminhonete igual Silverado 6 cil não existe.Abraço
Eng. Camilo Formigari Giusti -
b00gns 15 de Junho de 2007 ás 10:08
Muito boa a matéria !
-
Clube do Diesel 20 de Junho de 2007 ás 11:27
Olá Camilo,
Obrigada!
Não, eu fiz minha faculdade de Engenharia na Universidade Paulista (UNIP).
Você tem razão, este seguimento de Pick – up “big size” realmente é muito interessante, é uma pena que no Brasil a procura por este tipo de veículo tenha diminuído nos últimos anos. -
comprei uma silverado MWM 6 cil depois de 2 anos de procura . é um super carro . a minha é uma 97 e está impecavelmente nova
Deixar uma resposta
-